Em 2009 me inscrevi no curso de Especialização em Tanatologia pela USP. Neste curso estaria me aprofundando nos processos de Morte e Morrer. Você pode me perguntar, por que alguém pode se interessar por uma formação destas? Tem tanta coisa melhor a se fazer… Ah, pode se pensar, ela é Psicóloga e lida com lutos, mas aqui eu lhe digo que as motivações foram ainda mais profundas.
Atrás da psicóloga, existe o ser humano que se dispõe a contribuir para os processos de desenvolvimento pessoal, o que propõe uma lógica de estar trabalhada em meus temas pessoais para poder acompanhar o processo de outras pessoas.
Em 2009 eu olhei para os muitos processos de “morte” e “quase morte” em minha vida. Em 1995, havia perdido meu irmão de acidente com 24 anos de idade e isso me colocou violentamente diante MORTE.
Em 2003, eu sofri um acidente de carro brutal e escapei por muito pouco. Logo em seguida, uma irmã contraiu uma bactéria super resistente no hospital em que trabalhava e foi assustador aguardar ela sair curada. Em 2006 meu pai, sofreu um acidente de trabalho ficando 21 dias em coma total e depois alguns anos vivemos a sua recuperação de um traumatismo craniano com muitas sequelas.
Entende agora, porque este tema me chamou?
Olhar de frente para a Morte era algo inevitável naquele momento. Entender a morte no contexto histórico-cultural, biológico, psicológico, espiritual e religioso dentre tantos outros olhares, foi libertador.
Como assim libertador? À medida em que eu ia me apropriando do sentido da Morte, fui resgatando um novo olhar para a própria VIDA.
A morte é um processo natural em nossa existência, desde o princípio. Começamos a morrer desde que nascemos, biologicamente. Neste fluir da Vida, passamos por vários olhares sobre a morte. Reconhecemos morte biológica, como interrupção ou finalização da vida, onde o fluxo vital é interrompido. Mas antes deste instante em que deixamos a "corporeidade" vivemos muitas mortes. Para crescer e se desenvolver precisamos deixar morrer a fase anterior, num eterno pulsar.
Aprendi que a VIDA é este eterno pulsar de morrer e renascer.
A partir daí me engajei no meu próprio caminho psico-espiritual. Se a Vida é este pulsar, então precisamos pertencer a Vida, sem querer apertar, reter, segurar absolutamente nada.
Comecei a compreender em mim que o medo da morte é o próprio medo da Vida e iniciei uma investida em realizar o melhor de mim nesta narrativa que venho tecendo. Dar Vida ao corpo, aos relacionamentos, a realização profissional e pessoal, incluindo mais espaços de contemplação e presença em cada instante.
Como lhe contei antes, meu pai viveu mais 13 anos e meio após o acidente, porque depois vieram outros desdobramentos, com inúmeras internações, cirurgias, enfim, até o dia de sua despedida final da matéria. Foi um lindo caminho construído a várias mãos.
Na Tanatologia, estudamos as fases do luto e foi lá que descobri o luto antecipatório e percebi que cada dia, mês, ano, Natal, Aniversários podiam ser os últimos, e isso me fazia melhor na sua presença e na de toda família.
Passei a valorizar mais as amizades, as viagens, os acasos que a Vida sempre se incumbe de oferecer como oportunidade de respirar mais profundamente. Desde o canto de um pássaro, o nascer e o pôr do sol, a chuva, a brisa e também a sofrer menos quando o idealizado não sai como planejado, aproveitando para aprender e aceitar o possível e assim, se preparar para seguir nas melhorias. Aquele chicote que carregava dentro de mim ainda existe, mas segue na maioria das vezes “aposentado na parede” e quando ele resolve aparecer é sempre mais fácil resgatar a leveza e doçura para o autoperdão, acolhendo a experiência com mais maturidade e serenidade para os processos da Vida. Tudo é pertencente. Essa foi outra expressão que foi adicionada e que frequentemente me diz: Está tudo bem… Vai ficar tudo bem… Tudo está onde e como deveria estar… Só tem um pequeno detalhe importante, não se apegue, nem se prenda àquilo que te acomete.
Da mesma forma que chega, vai... fluida e rica Vida, ininterruptamente produzindo a riqueza em que vamos nos tornando.
Não precisamos controlar nada, apenas estar inteiros, presente no presente que é estar aqui e agora.
Eu convido você a olhar para o tema Morte, especialmente agora, com a Pandemia, em que temos acompanhado tantas pessoas partirem e também perderem seus entes queridos.
Se você ainda os tem perto de você, aproveite para respirar junto com quem você ama, mesmo que ele seja muito diferente de você. Aprendemos muito com os opositores, quando olhamos com o olhar do pertencimento, afinal o que seríamos nós se não tivéssemos de vez em quando arestas a serem aparadas. Como numa atividade física, se não estressamos por alguns segundos nossos queridos e preguiçosos músculos, não conseguimos ganhar a força muscular desejada para explorar a nossa existência com o máximo de potência que ela tem pra SER. Vamos descobrir a Vida, aceitar a morte trazendo Vida! Compartilhe com um amigo que precisa ler isso. Se quiser conversar sobre este tema, entre em contato comigo. Namasté Rita Camargo Psicóloga Clínica Tanatóloga
Estou começando a superar a morte do meu marido.
Meu nome é Silmara, sou mãe do Leonardo.
Gratidão Fabrizio
🙏